8/06/2006

O grito do palhaço

O figurativo foi desde sempre reincidente em meu trabalho, em se tratando de pesquisa com cerâmica tradicional. Aliás, esta figura que postei hoje é parte de uma grande série que desenvolvi e resultou em uma exposição que fiz a muitos anos atrás aqui em Porto Alegre. A qual acabou sendo bastante criticada por alguns "especialistas" em artes.
Lembro de que na época já tinha bastante consciência e até me sentia, em certa medida, um pouco culpado pelo fato de que meu trabalho tendia a valorizar bastante o aspecto estético da criação. Me sentia culpado em razão de que justamente esta característica, para alguns (pretensos)entendidos, tornava minha produção algo apenas "decorativo" e de valor estritamente comercial. Portanto, longe de ser verdadeira Arte.

Contudo, sempre me perguntava do por que não deveria a arte agradar ao olhar ou deveria fugir do mercado? Teria que a Arte, para ter valor, ser reduzida a um frívolo e primário discurso, não raro, tão repetitivo e ultrapassado como vemos em algumas ditas obras de vanguarda contemporânea que existem por aí?
Discurso este que prega o desprezo ao mercado e ao aspecto estético da obra buscando apoiar-se no material puro e simples convertido em um fim em si mesmo. O que propicia, convenhamos, um sem fim de mediocridades travestidas de Arte. O mais curioso é ver que este psudo "fazer verdadeira arte" sobreviveu sempre, justamente, de verbas oficiais advindas de participações em bienais, festivais, salões e assemelhados. E mesmo assim sofre com o natural desgaste resultante do desinteresse de grande parte dos vistantes. Leigos ignorantes, diriam os sempre "especialistas", do alto de seus saberes.
Mas vamos convir, o mercado somente não interessa àqueles cujas obras jamais conseguiriam alcançar nenhum valor em razão de sua absoluta falta de conteúdo, mesmo estético. E a forma somente não tem valor para àqueles que não sabem manipula-la.

Hoje trabalho visando agradar o olhar e ao mercado, sem culpas. Deixo a imaginação e o prazer fluirem pois Arte também é fantasia, é deleite dos sentidos. E não apenas teorias que somente levaram a uma profunda e irreversível crise de esvaziamento do sonho. Sonho que, no mais das vezes, é a matéria prima para se reiventar a realidade e a Arte.

Quanto aos ditos "especialistas" e seus discursos só me resta lembrar o que alguém escreveu:
"Para filosofia barata, não adianta inseticida". ;-)