1/29/2010

(Re)visitando a forma

2010, já andando em meio ao sufocante calor que impera em Porto Alegre, e mais uma vez sobra pouco tempo para me concentrar e escrever em razão de trabalho, estudos, problemas com a conexão que resolveu pirar esta semana(sim, estou postando de um cibercafé!!!!), e, para complicar mais ainda, uma dificil perda pessoal. Perda esta que me fez refletir e muito acerca das formas e dos conteúdos do universo. Enfim, fica sempre faltando um tanto por uns lados, até por sobrar de outros e disto tudo permanece apenas a vontade de retomar meus textos e (as)sumir o esquecimento do que já passou de ruim.

Bom, no ano passado andei recebendo um email de um amigo com um daqueles chatos textos piegas remetidos 10000 vezes e que, cedo ou tarde, invariavelmente aparecem na sua tela. Até aí sem novidades, basta passar rapidamente os olhos e deletar sem saudades.

Só que o tal texto vinha acompanhado da imagem de uma curiosa escultura que de imediato me chamou a atenção. A peça tinha um estilo estranho que me remetia a idéia de uma bem humorada mistura de Alice no País das Maravilhas e família Adams.


Mas, como não havia maiores informações acerca do autor e como, normalmente, tempo para fazer busca na internet a partir de uma única imagem é coisa que nem sonho em ter...Assim que ficou o enigma de lado. Pelo menos por um tempo.

Então, neste início de ano, aproveitando a relativa folga proporcionada pelas férias escolares e uma necessária revisão do tudo que passou e virá, resolvi ir à luta e descobrir mais a respeito do criador daquela peça, isto se é que haveria algo consistente na internet.


Pois é, no final realmente valeu a pena gastar alguns muitos dias e noites regados à excessivos cafés e cigarros(mea culpa) na net fazendo combinações de buscas das mais doidas, e contando com alguma sorte, porque ao conhecer a obra de Elizabeth McGrath vi que esta era ainda mais sofisticada e rica em simbolismos pessoais e com uma produção que eu sequer poderia imaginar que existisse.

Elizabeth McGrath, nascida em Los Angeles(EUA) é definida como uma autêntica eclética, pois além de artista gráfica e escultura de mão cheia é também vocalista de uma banda. Mas é em seu trabalho com esculturas e dioramas que vamos identificar seu estilo único e sua verdadeira alma de artista.

Elizabeth, segundo helen Garber, "(...)desde sempre apreciou coisas estranhamente belas e grotescas da vida, o que se transfere a sua obra inspirada nas relações entre o mundo natural e os detritos de nossa sociedade consumista resultando em peças intricadas, originais e cheias de encanto em uma interação melancólica entre símbolos de status e o sofrimento
próprio à natureza".

Em sua criação, Elizabeth, lança mão de materiais variados como madeiras, resinas espumas, polymer clay, tecidos, metais e tudo o mais que a auxilie a formalizar sua arte. Sua jornada no universo ds artes visuais começou ao ir estudar estilismo na Pasadena City College.

Naquela época ela tinha um objetivo bem claro, queria criar roupas e pósteres para o marido. Nesse meio tempo o diretor musical Fred Sthur conheceu seu trabalho e a convidou para criar miniaturas que seriam usadas em video clips. Daí, foi um passo para descobrir seu estilo, em uma releitura absolutamente pessoal.

Novamente deixo a palavra com Helen Garber que escreve, "(...), as tradições da união e criação de "mundos íntimos" foram historicamente uma perseguição surrealista. No entanto, o trabalho de Elizabeth tem pouca relação com o subconsciente. Filha de pais missionários que se conheceram em Singapura, a educação católica de Elizabeth certamente influencia sua estética".
O colorido presente no catolicismo nas culturas asiática e americana, sem dúvida empresta o efeito teatral a seu trabalho. Sendo esta a fundamentação teórica da artista que examinando os simbolos universais não se contenta em simplesmente reproduzi-los na forma mas antes em reinterpretá-los a sua maneira.


Nas peças mais recentes de McGrath percebe-se a influência direta de artistas como Joseph Cornell, Alexander Calder já os trabalhos mais antigos de Marcel Duchamp, em particular Étant Donnés. O trabalho de McGrath esforça-se para comunicar-se usando meios similares, contudo seus significados são totalmente diferentes.

Seleciona a inspiração da cultura contemporânea assim como em seu catolicismo, já mencionado, a cultura asiática, a cultura de rua, a cultura do México, dos gibis, dos parques temáticos, e de outras influências.

Digere tudo e cria seus próprios ambientes em que pode encenar dramas e criar as encenações que surgem a partir de suas próprias experiências e interações com o mundo exterior. Se você observar seu trabalho você poderá ver que suas criaturas são realmente auto-retratos que ajustam-se em uma paisagem fantástica que ecoa seus próprios sonhos e temores em uma leitura, por vezes, amarga contudo em doces doses, bem adequadas à vida moderna.

Para aqueles que ficaram tão intrigados quanto curiosos como eu fiquei com sua arte fica a dica para conhecer melhor sua obra. Basta acessar seu site: http://www.elizabethmcgrath.com/


Até a próxima,