3/16/2007

O Olhar do artista



O artista, e me refiro aqui ao verdadeiro artista visual, não se reduz a ser aquele tipo esquisitão, cuidadosamente produzido de modo a parecer absolutamente casual, que delira sobre seu trabalho muitas vezes hermético, e pasme, sem conteúdo(ainda que o mesmo o negue com veemência e, até, sinceridade), e critica como ignorantes e primevos àqueles que não entendem ou mesmo, simplesmente, não gostam do que ele faz. Aliás, direito este de cada um que antes de mais nada deve ser respeitado em sua opinião. Esta leitura, acredito, se reduz a quase que uma caricatura, antes criada por aqueles que não apreciam ou mesmo desconhecem realmente o que seja verdadeira arte do que pelos que realmente a produzem e/ou a fruem com sinceridade. Pois, para mim, fazer arte é assumir o prazer, e a obrigação de se expressar antes para si do que para os outros, pelas linguagens que o artista mesmo vai construindo e decifrando através de seu trabalho. É encontrar sua paz pessoal, intransferível, mas ao mesmo tempo compartilhavel, em certa medida. Até, porque não, por vezes ser indecifrável por aqueles que vivem fora de seu universo pessoal.
Ser artista é deixar fluir a sensibilidade, é ver pontos e linhas, cores, luzes e sombras harmônicas, mesmo na aparente desarmonia da natureza e do urbano. Em ver mesmo nos gestos corriqueiros enorme carga de simbolismo e significados que somente a percepção, muitas vezes de forma intuitiva, consegue desvelar.
Artista de verdade é aquele que vê algo mais onde todos apenas enxergam o lugar comum. É aquele que organiza linhas e cores de forma a fazer sentido(ou não), emocionar ou mesmo irritar, mas que jamais acaba plantando apenas a indiferença. É, principalmente, aquele que não busca o sucesso fácil, e o mercado ávido de antigas novidades. Mas que, ao mesmo tempo não nega que o mercado e o sucesso existem, devem ser buscados e são importantes, pois complementam ao mesmo tempo fornecem o necessário lastro às suas produções.
Ser artista é, em especial, assumir um karma e um dharma, uma dor e um prazer, imensos e indescritíveis em se expressar e, assim, colocar ordem ao aparente caos que é a criação maior que chamamos de mundo.

Até a próxima

O texto acima foi escrito e publicado em outro blog que mantive a bastante tempo atrás. Resolvi republica-lo aqui e hoje pelo fato de que me parece manter sua atualidade e relevância no conjunto de minhas observações sobre o "mundico" das artes. A imagem que ilustra este post é parte de um projeto pessoal que venho desenvolvendo e que envolve experiências com photoshop utilizando imagens e minhas peças. Mais exemplos podem ser visualizados e baixados aqui:
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