8/26/2007

Yes, nós temos bijus


É público e notório - pelo menos para aqueles que acompanham meu trabalho mais de perto - o fato de que nunca fui alguém que tivesse especial preocupação em desenvolver uma produção dirigida à criação bijuterias. Na verdade, desde sempre optei por me dedicar, prioritariamente, a objetos de decoração tais como luminárias, caixas, vasos e outros itens em meu trabalho com argila polímera/cerâmica plástica. Não se trata de nenhum tipo de preconceito de minha parte, como alguns apressados podem concluir, mas antes de preferência programática ou uma questão de afinidade, se assim preferirem.

Talvez isto decorra, entre outras razões, do fato de que por muito tempo acreditei, mesmo que equivocadamente, que criar adornos pessoais restringiria minha criatividade e expressividade já que, forçosamente, deveria criar sobre uma área física bastante reduzida e a partir de uma linguagem formal limitada. Já que estamos falando basicamente de correntes e/ou fios associados a contas, em maior ou menor número, tamanhos, formatos e materiais.
Hoje, de certa forma até ironicamente, vejo que o fato de justamente trabalhar com pequenas áreas vantajosamente me permite experimentar possíveis combinações de formas, grafismos, inclusões e cores sem maiores riscos de ver, no final, que o resultado não me agrada e concluir que perdi tempo, produção e material.
Sim, porque não pretendo iludir a ninguém, e muito menos a mim mesmo, dizendo que possua algum tipo de “toque de Midas” e acerte em todos os meus experimentos de primeira.
E, vamos convir que ficar cantando o velho sucesso dos anos 70 de Ivan Lins: “começar de novo...” pode até soar interessante mesmo em desafinado karaokê ou, para os mais tímidos no banheiro, mas na pratica o que se vai, jamais volta. :-(

Assim, entre idas e vindas e a partir de muitos estudos, ultimamente resolvi encarar o meu próprio desafio de me dedicar a investir mais na criação de bijuterias procurando, antes de qualquer coisa, encontrar minha própria linguagem pessoal da mesma forma que já a encontrei em se tratando de objetos de decoração. Isto é, de conseguir produzir peças que as pessoas ao olharem imediatamente as associem, bem ou mal, ao autor. O que por si só já é um grande desafio que não poucos tropeçam ou fingem ignorar.

As peças que coloquei ilustrando este post são justamente duas destas experimentações. O resultado é bom? Ruim? Médio? Não caberá a mim e menos ainda a meus amigos, sempre tão ou mais suspeitos que eu, julgar. Pois, convenhamos, não existe nada mais limitante do que a mentalidade corporativista, mãe dos medíocres. E o Brasil, infelizmente, é cheio de exemplos neste sentido em todas as áreas de conhecimento.
Acredito sim que, como ocorre com tudo que criamos, o julgamento final caberá, mais uma vez e sempre, ao impessoal mercado com suas normas e humores próprios que fluem independente de vontades pessoais.

Quanto a mim? Só me resta ir deixando fluir as idéias e formalizá-las com a mesma satisfação que sempre existe em tudo que faço. Já que sempre acreditei, citando o saudoso e irônico Leminski, que “esse negócio da gente querer ser exatamente o que a gente é, ainda vai nos levar além”. É isso aí. ;-)

Até a próxima.