2/22/2010

Caleidoscópio de cores



"Tempo, tempo, tempo, tempo, compositor de destinos, tambor de todos os ritmos".
Caetano Veloso

Pois então, passou um longo tempo e eu sem postar por aqui. Muita coisa aconteceu dentro e fora do ciberespaço. Estudos, pesquisas e leituras, eterno aprendizado que nunca é demais.
Envolvido com o magistério, na alegria e na dor de conhecer a realidade de ser professor. Ultimamente mais dor. Infelizmente.
Artista, meio esquecido na prática mas bastante voltado para as questões teóricas da Arte. Já que refletir é preciso.
E sempre correndo na rotina de um dia a dia cheio de idéias e compromissos. Bem como gosto.
Só que o bloguista do Polymer Clay teve que ficar um pouco de lado neste redemoinho que é a vida da gente. Onde se sofre mais por falta de tempo do que de desejo.
Mas no final é o tempo que sabe a hora de tudo. Até do tempo de retornar. Não é mesmo?
Bom, quando resolvi retomar meus posts lembrei imediatamente que muitos leitores já reclamaram, e com razão, que poucas vezes escrevi sobre adornos pessoais, ou melhor chamando: bijuterias, e que poderia postar mais a respeito já que existe muito interesse e material sobre o assunto.

Pois é, humildemente, tenho que dar a mão à palmatória e reconhecer que minhas postagens, em geral, realmente tem girado em torno de artistas que produzem esculturas ou objetos de arte e decoração criadas em Polymer Clay.
Isto talvez seja reflexo de minha preferência por produzir estes tipos de objetos à bastante tempo.
Feito o mea culpa, vamos ao que realmente interessa.
Hoje estou postando sobre uma moça que mesmo sendo pouco mencionada no Brasil, é bastante conhecida nos Estados Unidos e Europa. E isto justamente ocorre por ter um trabalho muito bacana e diferenciado em se tratando de bijuterias.
É puro design de qualidade que mexe com meus sentidos e sentimentos e que acho que os leitores costumazes e os eventuais pára-quedistas da rede vão gostar de conhecer.
Seu nome é Sarah Shriver, uma talentosa artista norte americana com quem entrei em contato, como sempre faço, no sentido de explicar a proposta do blog e pedir autorização para cita-la e mostrar sua arte.
Em seu retorno foi extremamente atenciosa, remetendo, inclusive, material selecionado especialmente para este post.
Coisas de primeiro mundo... ;-)
O contato inicial de Sarah com o Polymer Clay ocorreu em 1987 em San Francisco enquanto trabalhava em uma loja especializada em materiais dirigidos à artistas.
Nesta loja os funcionários eram incentivados a experimentar técnicas e materiais de modo a poder melhor informar aos clientes. Disto resultou em uma imediata paixão pelo Polymer Clay, ao primeiro toque.
Para Sarah, o que mais se destaca no manuseio do Polymer Clay é o processo de produção de imagens através de "pinturas" que são, ao mesmo tempo, produtos de gestos próprios aos ceramistas tradicionais.
Buscando inspiração em tapetes e telas étnicos tradicionais Sarah, para desenvolver o conjunto de suas peças, criou técnicas e abordagens que fazem com que seu trabalho seja extremamente admirado pelo refinado detalhamento.
Inicialmente sarah criava seus canes (bastões) geralmente como testes de padrões gráficos repetidos com cores em contrastes simples. Isto ocorrendo até conhecer a técnica criada por Judith Skinner de produzir tons degradês e assim, sofisticar, ainda mais, sua criação.

Sarah, pode levar mesmo algumas semanas criando cada cane(bastão) caso seja muito elaborado, com muitas lâminas misturadas e remixadas.

Posteriormente ela corta o original, sendo estes
razoavelmente grandes, variando de 12 a 13 cm de espessura e pesando quase meio quilo. Resultando disto um espetáculo magnífico e único de cores e formas.

A partir daí Sarah "destrói" oprojeto inicial e com os canes menores resultantes utiliza a técnica conhecida como kaledoscoping, ou seja, espelha a imagem de cada um dos resultados dando forma à bastões intrincados e de extrema sofisticação que serão aplicados a pulseiras e colares únicos e muito especiais.

Sarah frequentemente se inspira na natureza, em quadros ou sua imaginação para produzir suas peças.

Busca, intuitivamente, desvendar as relações de cores que os artistas usaram em suas obras e reinterpreta-las utilizando as lâminas de Polymer Clay. O belo resultado disto tudo é o que podemos conferir neste post.

Para conhecer ainda mais seu trabalho, basta acessar e prestigiar seu site. Garanto que vale a pena conhecer: www.sarashriver.com


1/29/2010

(Re)visitando a forma

2010, já andando em meio ao sufocante calor que impera em Porto Alegre, e mais uma vez sobra pouco tempo para me concentrar e escrever em razão de trabalho, estudos, problemas com a conexão que resolveu pirar esta semana(sim, estou postando de um cibercafé!!!!), e, para complicar mais ainda, uma dificil perda pessoal. Perda esta que me fez refletir e muito acerca das formas e dos conteúdos do universo. Enfim, fica sempre faltando um tanto por uns lados, até por sobrar de outros e disto tudo permanece apenas a vontade de retomar meus textos e (as)sumir o esquecimento do que já passou de ruim.

Bom, no ano passado andei recebendo um email de um amigo com um daqueles chatos textos piegas remetidos 10000 vezes e que, cedo ou tarde, invariavelmente aparecem na sua tela. Até aí sem novidades, basta passar rapidamente os olhos e deletar sem saudades.

Só que o tal texto vinha acompanhado da imagem de uma curiosa escultura que de imediato me chamou a atenção. A peça tinha um estilo estranho que me remetia a idéia de uma bem humorada mistura de Alice no País das Maravilhas e família Adams.


Mas, como não havia maiores informações acerca do autor e como, normalmente, tempo para fazer busca na internet a partir de uma única imagem é coisa que nem sonho em ter...Assim que ficou o enigma de lado. Pelo menos por um tempo.

Então, neste início de ano, aproveitando a relativa folga proporcionada pelas férias escolares e uma necessária revisão do tudo que passou e virá, resolvi ir à luta e descobrir mais a respeito do criador daquela peça, isto se é que haveria algo consistente na internet.


Pois é, no final realmente valeu a pena gastar alguns muitos dias e noites regados à excessivos cafés e cigarros(mea culpa) na net fazendo combinações de buscas das mais doidas, e contando com alguma sorte, porque ao conhecer a obra de Elizabeth McGrath vi que esta era ainda mais sofisticada e rica em simbolismos pessoais e com uma produção que eu sequer poderia imaginar que existisse.

Elizabeth McGrath, nascida em Los Angeles(EUA) é definida como uma autêntica eclética, pois além de artista gráfica e escultura de mão cheia é também vocalista de uma banda. Mas é em seu trabalho com esculturas e dioramas que vamos identificar seu estilo único e sua verdadeira alma de artista.

Elizabeth, segundo helen Garber, "(...)desde sempre apreciou coisas estranhamente belas e grotescas da vida, o que se transfere a sua obra inspirada nas relações entre o mundo natural e os detritos de nossa sociedade consumista resultando em peças intricadas, originais e cheias de encanto em uma interação melancólica entre símbolos de status e o sofrimento
próprio à natureza".

Em sua criação, Elizabeth, lança mão de materiais variados como madeiras, resinas espumas, polymer clay, tecidos, metais e tudo o mais que a auxilie a formalizar sua arte. Sua jornada no universo ds artes visuais começou ao ir estudar estilismo na Pasadena City College.

Naquela época ela tinha um objetivo bem claro, queria criar roupas e pósteres para o marido. Nesse meio tempo o diretor musical Fred Sthur conheceu seu trabalho e a convidou para criar miniaturas que seriam usadas em video clips. Daí, foi um passo para descobrir seu estilo, em uma releitura absolutamente pessoal.

Novamente deixo a palavra com Helen Garber que escreve, "(...), as tradições da união e criação de "mundos íntimos" foram historicamente uma perseguição surrealista. No entanto, o trabalho de Elizabeth tem pouca relação com o subconsciente. Filha de pais missionários que se conheceram em Singapura, a educação católica de Elizabeth certamente influencia sua estética".
O colorido presente no catolicismo nas culturas asiática e americana, sem dúvida empresta o efeito teatral a seu trabalho. Sendo esta a fundamentação teórica da artista que examinando os simbolos universais não se contenta em simplesmente reproduzi-los na forma mas antes em reinterpretá-los a sua maneira.


Nas peças mais recentes de McGrath percebe-se a influência direta de artistas como Joseph Cornell, Alexander Calder já os trabalhos mais antigos de Marcel Duchamp, em particular Étant Donnés. O trabalho de McGrath esforça-se para comunicar-se usando meios similares, contudo seus significados são totalmente diferentes.

Seleciona a inspiração da cultura contemporânea assim como em seu catolicismo, já mencionado, a cultura asiática, a cultura de rua, a cultura do México, dos gibis, dos parques temáticos, e de outras influências.

Digere tudo e cria seus próprios ambientes em que pode encenar dramas e criar as encenações que surgem a partir de suas próprias experiências e interações com o mundo exterior. Se você observar seu trabalho você poderá ver que suas criaturas são realmente auto-retratos que ajustam-se em uma paisagem fantástica que ecoa seus próprios sonhos e temores em uma leitura, por vezes, amarga contudo em doces doses, bem adequadas à vida moderna.

Para aqueles que ficaram tão intrigados quanto curiosos como eu fiquei com sua arte fica a dica para conhecer melhor sua obra. Basta acessar seu site: http://www.elizabethmcgrath.com/


Até a próxima,